sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Bem Vindos - A espingarda da minha infância

Antigo modelo de cães exteriores da célebre Manufacture "Liégeoise d'Armes à Feu";
note-se a báscula dotada de orelhas de reforço lateral e terceiro trinco tipo "Greener" para maior robustez.
Neste meu primeiro post gostaria antes de mais de dar as Boas Vindas a todos os entusiastas dos magníficos desportos que são a caça e o tiro desportivo com armas de caça.

Decidi começar este blog como concretização de uma paixão antiga, tão antiga como a minha própria existência, as espingardas de caça e, particularmente as clássicas espingardas finas.
Não se admirem pois os excelentíssimos leitores se por aqui não virem qualquer menção feita a espingardas semi-automáticas ou modernas espingardas fabricadas em série.

Para os menos informados por "Espingarda Fina" entende-se a melhor e mais perfeita peça, que a engenharia associada à ancestral arte de espingardeiro conseguem produzir. Assim não me inclinarei sobre qualquer outra arma que não as que se inserem nesta categoria, e darei particular enfoque àquelas que considero serem as mais belas e bem construídas armas da história, as vulgarmente apelidadas de "Vintage Doubles".
Falo nomeadamente de espingardas de dois canos, justapostos ou sobrepostos, construídas entre os finais do Séc. XIX e a primeira metade do Séc. XX; a chamada "Idade do Ouro"

Dir-me-ão alguns "Mas esse assunto já está explorado e mais que gasto!"; estará???

Saberão as gerações mais novas, entre as quais eu próprio me insiro, as características únicas de uma espingarda fina?

Como se constrói?

Quais os processos envolvidos?

Quantas horas são necessárias para produzir tal peça?

Quantos artesãos são necessários para o fazer?

Não creio; melhor sei com alguma margem de segurança que a maioria não sabe. Uns por desinteresse, que é legítimo, outros simplesmente porque não têm quem os ensine, o que já é triste pois ignoram um universo riquíssimo e, em meu entender é dever daqueles que sabem alguma coisa partilhar com as gerações mais novas. Não se deve deixar o conhecimento e a tradição desta nobre arte morrer por inércia.

Lancei muitas perguntas, adiantei-me, e saltei uma parte muito importante...não me apresentei! Prometo que irei dar as respostas em breve!

O meu nome é Paulo Brito, tenho 27 anos, sou Licenciado em Relações Internacionais e Caçador desde que me conheço por gente.
Nasci numa família de caçadores e atiradores, e desde muito cedo as armas, os cães e o cheiro da pólvora acabada de queimar fazem parte do meu quotidiano. O meu Pai incutiu-me esta paixão e, tive a sorte de ter sido iniciado neste mundo das armas muito cedo.
 Comecei a atirar com 8 anos de idade, na altura com uma espingarda Liégeoise de calibre 32, com canos justapostos de 76 cm e cães exteriores. Era uma arma magnífica pertença de um tio meu, apesar dos seus canos longos era leve e muito bem equilibrada, com ela matei muita passarada na quinta onde nasci, e jamais esquecerei as célebres caçadas às ratazanas que teimavam em atormentar a nossa criação. Daí até começar a acompanhar o meu Pai nas suas jornadas às perdizes e narcejas foi um pequeno salto e, daí até me tornar atirador de stand foi um salto ainda menor!
Ao longo dos anos tenho conhecido muita gente; grandes caçadores, atiradores de grandes recordes, armeiros e espingardeiros....com todos aprendi muito, e com eles continuo a aprender, e por isso me considero privilegiado.

Graças a todos eles e à minha paixão (alguns dirão obsessão!) pelo conhecimento das armas, tenho dedicado boa parte do meu tempo a ler, pesquisar, trocar ideias e experimentar armas e cartuchos. Tudo isto contribuiu para que viesse a adquirir algum conhecimento sobre esta matéria, por vezes prejudicando outros aspectos da minha vida pessoal...namoradas, estudos, noites de farra...tudo ficava para trás quando as armas vinham ao barulho.
Muito aprendi, muito mudei, mas uma permaneceu na minha memória....a Liégeoise de calibre 32 e a "doença incurável" que me pegou das armas finas.

Comecei este blog essencialmente por amor a esta arte e espero que com o meu modesto conhecimento, possa desmistificar algumas ideias erradas que ouço recorrentemente, e quiçá trazer alguma luz sobre um tema por vezes envolto no maior mistério para aqueles que se interessem por aprofundar estes assuntos.
Espero consegui-lo; e perdoem-me aqueles que me possam achar pretensioso, mas faço isto de forma apaixonada e honesta.

Finalizo este post com uma dedicatória:

Ao meu querido irmão Miguel de Brito, meu companheiro de tantas caçadas e outras aventuras, que o destino não permitiu que cumprisse as quatro estações da vida e, levou de forma abrupta da nossa convivência em Agosto de 2012.
A ele dedico estas linhas, em memória das caçadas que fizemos e daquelas que ficaram por fazer...e foram tantas! Onde quer que esteja sei que estará a sorrir ao me ver iniciar esta ideia já tão antiga e, se Deus quiser, um dia voltaremos a caçar narcejas juntos com as nossas Francottes até à eternidade.

Até já Mano...

O meu irmão Miguel na nossa última caçada juntos. Porto Alto; 2011.

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